segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Após um longo recesso voltei. Tenho observado e pensado muito sobre a viagem e os caminhos que tenho trilhado no meu viver.
Após um bom tempo meio reclusa em casa, saindo pouco, resolvi botar o bloco na rua e voltar a viver algo que eu adoro que é estar com meus amigos, a noite, boa música, rir muito, observar a vida, conhecer pessoas...
Acho que havia esquecido o prazer que a perda de uma noite de sono por uma boa farra proporciona para a alma, ver o pôr do sol no MAM ou no Farol da Barra alimenta o coração, que a lua é excelente companheira, que o amor é o que realmente importa e que cada momento realmente é único e deve ser vivido em toda a sua intensidade para que se torne inesquecivel, que meus porres bem tomados me acompanharão por toda a vida, fazendo parte das melhores lembranças.

Lembrei agora de Panis et Circences da Marisa Monte

Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos
Sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e leões nos quintais
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...
...Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes, procurar, procurar...
...Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

Entre o nascer e o morrer existe um caminho para ser vivido com alegria, com emoção, com amor, família e a confraria dos amigos verdadeiros e sinceros cada um com seu jeito especial que faz a minha vida muito mais feliz

E hoje não posso esquecer de transcrever o poeta Thiago de Mello

ESTATUTO DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente)

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade. agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o
homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com
seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o
cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de
aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, o uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Thiago de Mello Santiago do Chile, abril de 1964

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